quarta-feira, 11 de novembro de 2015

LICITAÇÕES NA MIRA DA JUSTIÇA

  As fraudes licitatórias acontecem em âmbito nacional e geralmente demoram para serem descobertas, até porque se ninguém denunciar ou levantar suspeitas nada acontece.  Tem fraude de todo jeito, desde as mais elaboradas, estratégicas até as mais simples que contam com verdadeiros “caras de pau” que não se dão nem ao trabalho de disfarçar, sem critério algum se apoderam do dinheiro público e pronto, simples assim. Entre as fraudes mais comuns estão falsificações de documentos, assinaturas e empresas fantasmas. Alguns golpes envolvem grupos grandes caracterizando formação de quadrilhas, cartéis, além da participação especial de funcionários públicos e autoridades políticas eleitas pelo povo. Não dá para dizer qual é o plano mais mirabolante, afinal fraude é fraude, e o que mais espanta é a frequência com que ocorrem.
 Graças as operações do Ministério Público e da Polícia Federal ainda podemos acompanhar algumas prisões e mandados de busca e apreensões, é um indício de que as coisas podem mudar no país, afinal serem destituídos de seus cargos, perderem seus bens ou pagarem multas não é suficiente pois uma fraude licitatória bem-sucedida não deixa de ser em outras palavras um roubo e quando existem provas concretas nada mais justo do que a aplicação da lei no enquadramento penal.
 Seguem alguns casos que se tornaram públicos, a maioria deles são de investigações de anos anteriores e foram divulgados agora em 2015.  




Posso dizer a vocês que durante a compilação desses casos que fiz para redigir este artigo, encontrei tantas, mas tantas e tantas fraudes que tive que escolher as que me chamaram mais atenção, é realmente desesperadora a sensação de estar sendo roubada o tempo todo e para não ficar de braços cruzados estou fazendo a minha parte divulgando e chamando atenção das pessoas para o problema que por sinal é bem maior do que podemos imaginar. O país está em crise, economizando em todo lado e uma verdadeira legião de norte a sul roubando descaradamente o dinheiro público que poderia se converter em condições melhores para todos principalmente no que tange a saúde e a educação.

Ano 2015
Janeiro
 Numa pequena cidade de 13 mil habitantes no Pará o Ministério Público entra em ação depois de várias denúncias de fraudes de licitação no município. Uma das denúncias indicou irregularidades quanto à coleta de lixo, imaginem que a sede da empresa ficava justamente na casa do pregoeiro responsável pelo andamento do processo licitatório. A coleta de lixo era realizada duas vezes por semana por funcionários da própria prefeitura, enquanto deveria ser feita por funcionários da tal empresa vencedora do certame, que aliás, recebeu 1.500.000 (hum milhão e meio) pelo serviço.
Fevereiro
 Levou 20 anos para descobrirem que o ex-prefeito de uma cidade de Rondônia estava metido em fraudes, ele foi condenado por improbidade administrativa, vai ter que, juntamente com seus comparsas, devolver o dinheiro público indevidamente recebido aos cofres públicos com ajustes monetários. Na licitação de modalidade carta convite uma empresa ganhou o serviço para operação de máquinas, no entanto, não houveram outros convidados, só existia uma empresa, o que fere a lei de licitações 8.666 já que são necessários pelo menos três convidados para esta modalidade. Depois descobriram que outra empresa realizou o serviço e não a que ganhou, em seguida por conta de um período de chuvas o prefeito rescindiu unilateralmente o contrato e anulou parcialmente o empenho ficando ainda uma pendencia de quase R$ 40.000 (quarenta mil reais) e assim deu-se por encerrada qualquer atividade com as referidas máquinas, em seguida a empresa argumentou que não havia recebido o pagamento referente ao serviço executado e o prefeito por sua vez resolveu abrir mais duas licitações para pagar o que devia, ou seja, ocorrência de duplo empenho, e logo em seguida, descobriram que as duas licitações também foram forjadas. Para apimentar a história, as máquinas que foram licitadas eram operadas em propriedades particulares (como assim?) e funcionavam com combustível pago pela administração pública municipal. Se enrolou na hora do trambique!
Março
 Mais uma denúncia, desta vez envolvendo três diretores e um ex-funcionário do Tribunal de Contas que juntamente com dois empresários foram acusados de fraude licitatória, corrupção e associação criminosa no Paraná, favorecendo uma empresa na licitação para construção de prédio. O caso aconteceu da seguinte forma: 06 empresas se candidataram, 05 foram desqualificadas por diversos motivos, como por exemplo apresentar proposta com valor considerado baixo demais, a empresa considerada vencedora na verdade era o terceiro valor mais baixo entre as concorrentes, cerca de 06 meses depois o dono da empresa foi preso no ato da entrega de pagamento de propina à um funcionário do Tribunal de Contas para que a licitação fosse fraudada. Outras pessoas envolvidas foram presas provisoriamente.
Abril
Ex-prefeitos e ex-secretários de finanças em uma cidade no Sergipe foram denunciados pelo Ministério Público e condenados de 06 a 11 anos de reclusão além de pagar multas. Eles formavam um grupo criminoso que foi desarticulado por ações da Polícia Federal, fraudavam licitações adulterando documentos, falsificando certidões, notas fiscais, constituíam empresas de fachada além de acessarem informações privilegiadas, assim se apropriavam de verbas federais repassadas para educação e saúde.
Maio
Sul de Minas Gerais: Fraudes em licitações de shows artísticos para superfaturar eventos, 06 pessoas foram presas, entre eles empresários de eventos e comparsas, o prefeito foi indiciado. A denúncia se deu em virtude da ausência dos contratos de exclusividade dos artistas com os empresários e da justificativa dos preços contratados, faltou também a comprovação de consagração de artistas contratados, bem como  houveram irregularidades na contratação de prestação de serviços de palco, iluminação e som que estavam com procedimento errado conforme exigido na lei de normas licitórias 8.666, por se tratar de serviços comuns, nos quais não se possa enquadrar como inviabilidade de competição. Não existiam análises prévias de preços de mercado nem justificativas para o pagamento de valores contratados. A quadrilha teria movimentado cerca de R$ 11.000.000 (onze milhões) com contratos de superfaturamento em 20 prefeituras apontadas para investigação.
Junho
Em um município na Paraíba desde 2009 cerca de R$ 18.000.000 (dezoito milhões) foram desviados, 10 pessoas foram presas, entre eles, mais uma vez agentes públicos, empresários e engenheiros.  O esquema era preparado para duas empresas fantasmas que realizavam as obras públicas, emitiam notas fiscais frias para mascarar desvios de dinheiro público. De acordo com o Ministério Público, a quadrilha fraudava licitações e contratos públicos em obras e serviços de engenharia e realizava a venda de notas fiscais. Os crimes também incluem lavagem de dinheiro.
Julho
 Fraudes em licitações estaduais e municipais no Rio Grande do Sul chegaram ao desfalque de R$190.000.000 (cento e noventa milhões). O esquema era arquitetado entre um grupo composto por 10 empresas, chefiado pelo dono de uma das empresas que por meio de parentesco e laranjas comandava a maioria das demais empresas, o alvo eram pregões eletrônicos em várias cidades para que todos fossem contemplados em licitações diferentes, se alguma empresa do grupo não fosse comtemplada poderia clandestinamente prestar o serviço contratado no lugar da vencedora, mediante uma pequena bagatela de alguns milhões. Os ajustes financeiros eram feitos em reuniões ou mesmo no curso dos procedimentos licitatórios. Também foram denunciados pagamentos de propina a servidores públicos. Foram expedidos mandados de prisão e busca e apreensão.
Agosto
Na Câmara Municipal de uma cidade no Ceará ocorreu a contratação de uma empresa de contabilidade que recebia pagamentos na própria folha de pagamentos da referida Câmara, ao serem investigados e intimados pelo Ministério Público os próprios membros da Comissão de Licitação alegaram que não sabiam o que era uma licitação e nem tinham conhecimento de que faziam parte da Comissão, ou seja, a licitação foi uma farsa. Não sabiam?
Ainda no Ceará, na mesma cidade 34 pessoas foram denunciadas por fraude de licitação em procedimento de locação de veículos dando um prejuízo enorme aos cofres públicos. Os pagamentos de contratos de locação superavam o valor de compra dos veículos em até 40%, os acusados falsificavam os processos licitatórios e as empresas eram escolhidas antes mesmo de acontecer a licitação.
Setembro
Prefeito passa por cima da lei e resolve vender 07 lotes de uma área pública sem licitação a uma empresa privada, além disso ele é suspeito de autorizar ilegalmente mais de 300 obras numa cidade de Goiás. Imoralidade administrativa mesmo foi a contratação de dois funcionários desta mesma prefeitura, que exerciam a função de fiscais de edificações para realizar projeto arquitetônico de empresa privada, eles vão fiscalizar a si mesmos?
O Ministério Público combateu fraudes em cerca de 40 licitações de concursos públicos em 07 municípios do Rio Grande do Sul e a maioria carta convite. Foram 19 mandados de busca e 06 de prisão preventiva. Funcionava da seguinte forma: Um grupo de 07 empresas estabelecia um rodízio para quem ia vencer a licitação, combinavam o preço e se organizavam para que aquela já pré-determinada vencesse, assim os valores licitatórios eram elevados. O grupo atuava desde 2010 e já estava sendo investigada em outras cidades por fraude, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, um dos empresários chegou a ser preso em flagrante por porte ilegal de arma e documentos falsificados. Indignação pública!!!
Outubro
Uma empresa participante de licitação no Sul de Minas Gerais ao ser investigada por receber quase 30 vezes mais do que o valor previsto da licitação, teve a cara de pau de alegar que o valor descrito na licitação estava errado, então a prefeitura em vez de refazer o procedimento, deu um aditivo, sendo que a lei só permite majorar 20% do valor,  chega a ser imoral um contrato de R$ 1.900.000 (hum milhão e novecentos reais) passar para  R$ 39.000.000 (trinta e nove milhões), além disso houve uma transferência de contrato para uma outra empresa do mesmo grupo com os mesmos sócios, mesma sede, mesmos funcionários, enfim, tudo igual, tudo muito suspeito, já que a empresa que fez a transferência deve milhões ao fisco e a manobra seria justamente para evitar que seus bens existentes não fossem penhorados em ações fiscais evitando assim a perda dos contratos existentes com o Município.
O prejuízo aos cofres públicos chegou a ultrapassar R$ 800.000 (oitocentos mil reais), numa cidade no Sul do Rio de Janeiro. O Ministério Público Estadual desarticulou uma quadrilha suspeita de fraudar licitações da Câmara de Vereadores, ao todo foram 16 servidores públicos afastados do cargo, entre eles o Presidente da Câmara Municipal e o Secretário Municipal de Governo, 13 pessoas foram detidas para esclarecimentos e outras 17 foram denunciadas entre elas empresários da região.  O esquema de fraude era estruturado dentro da própria Câmara Municipal, onde três empresas de fachada, criadas para participar de licitações venciam com documentos falsificados de empresas reais. As “supostas empresas” vencedoras, que não tinham sede, funcionários ou qualquer tipo de equipamentos, assumiam contratos de organização de eventos, varredura eletrônica, instalação e manutenção do sistema de câmeras de segurança, entre outros, contratos e serviços que nunca foram executados. Em uma operação de busca e apreensão na Câmara foram encontradas provas como documentos de repartição de propinas, outdoors das três empresas de fachada entre outras. Muita gente envolvida no esquema.
Novembro
No Sergipe mais uma denúncia levou a justiça a expedir 11 mandados de prisão temporária e 17 de busca e apreensão. Fraude estimada em R$ 6.000.000 (seis milhões de reais), com superfaturamento de contratos e não prestação de serviços que beneficiou advogados e também empresas, através de “laranjas”. Duas pessoas já foram presas.

Enfim, encerro por aqui e espero não ter que reeditar este texto para colocar a fraude de dezembro. No próximo artigo vocês poderão conferir o passo a passo de uma parceria mal-intencionada entre o público e o privado desde a elaboração de seu edital.
Obrigada e até a próxima.



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